6/12/2025
No 32º Seminário de Investimentos e Benefícios da Capef, um tema atravessou vários painéis: como equilibrar um país cuja população vive mais, poupa pouco e precisa de renda para cada vez mais anos de aposentadoria.
Se, de um lado, o Diretor-Presidente da Abrapp, Devanir Silva, falou sobre pressão demográfica e necessidade de reformas estruturais na Previdência Social, Guilherme Benites, sócio e diretor técnico da Aditus Consultoria, levou a discussão para a perspectiva das entidades que administram planos de Previdência Complementar:
Afinal, como gerir recursos de forma consistente, buscando as metas necessárias para garantir o pagamento de benefícios num país que vai viver cada vez mais?
Ele explicou que, diante da maior longevidade, a responsabilidade central de uma Entidade é construir retornos sustentáveis, capazes de atravessar ciclos econômicos diferentes. E isso exige disciplina, método e visão de longo prazo.
Em outras palavras, não se trata de perseguir o fundo da moda, nem de “acelerar a 200 km/h” para tentar ganhar no curto prazo. O foco é entregar estabilidade, cumprir metas e proteger o patrimônio dos Participantes e Assistidos ao longo de décadas.
Longevidade: mais anos de vida, mais anos de benefício
Logo no início da palestra, Benites lembrou que a expectativa de vida do brasileiro vem subindo de forma consistente, e que isso muda completamente a equação previdenciária, tanto para o regime público, quanto para planos de previdência complementar.
“Quando a gente pensa em aposentadoria, está falando de acumular recursos por um tempo e depois gastar esses recursos por outro período. O problema é que esse segundo período está ficando cada vez mais longo”, explicou.
Nos planos de Benefício Definido (BD), como o da Capef, a promessa é de um valor mensal vitalício. Mas isso não significa ausência de riscos. Se as pessoas vivem muito mais do que o previsto nas premissas atuariais, o plano precisa de mais recursos do que o inicialmente calculado, o que pode levar a déficits e contribuições extraordinárias.
“Não existe mágica. Se a população vive 15, 20, 30 anos a mais do que o projetado, o custo aumenta. Mesmo um plano que sempre bate a meta de investimentos pode enfrentar déficit se a longevidade não estiver bem calibrada”, alertou.
Diante desse cenário, a gestão dos planos precisa ser ainda mais cuidadosa. O desafio não é apenas obter bons retornos, mas fazê-los durar por décadas. É por isso que comparar resultados de curtíssimo prazo, ou buscar o “melhor fundo do mês”, pode levar a conclusões enganosas.

Porque o longo prazo não é “correr a 200 km/h”
Um dos pontos de destaque da palestra foi justamente a crítica a essa tentação de olhar para rentabilidades instantâneas. Para ilustrar, Benites fez uma suposição:
"Em São Paulo, quem quer ir para a praia desce a serra em cerca de 1 hora de carro. Agora imagine que você entra no carro de um amigo, cochila e acorda 25 minutos depois já na orla. A reação natural não seria dar parabéns pela “performance”. Seria perguntar: a que velocidade você desceu a serra? Se a resposta for “a 200 km/h”, não importa que ele tenha “chegado mais rápido”. O risco assumido foi absurdo".
Outro exemplo citado como forma comparativa foi a Corrida de São Silvestre. Quem ganha a prova não é quem dispara na frente logo na largada, mas quem mantém um ritmo consistente e chega à subida final com fôlego para terminar bem. É uma metáfora para a diferença entre:
- um investidor que persegue o melhor resultado do mês; e
- um plano de Previdência que precisa entregar resultados sustentáveis por 20, 30, 40 anos.
“Frequentemente o Participante compara a rentabilidade do plano com algum fundo que viu na plataforma e foi muito bem em um mês. O nosso horizonte é outro, estamos desenhando uma carteira para décadas, não para ‘o melhor mês do CDI’”, reforçou.
Benites lembrou que políticas de investimento de planos de previdência são desenhadas para horizontes de longo prazo. Isso inclui:
- definir quanto vai em renda fixa, renda variável, ativos estruturados, imóveis etc.;
- respeitar limites regulatórios e exigências de liquidez;
- e evitar apostas que possam comprometer a capacidade de pagar benefícios.
Onde entra a Capef nessa história
Ao comentar a realidade da Entidade, Benites destacou o trabalho de macrolocação da Capef, que envolve o esforço de montar a carteira pensando no longo prazo, equilibrando retorno, risco e liquidez, especialmente nos planos mais maduros.
Ele reforçou que:
- boa parte dos recursos está aplicada em títulos públicos de longo prazo, marcados na curva, garantindo previsibilidade;
- há espaço para diversificação e aproveitamento de oportunidades, mas sempre dentro de bandas que não coloquem em risco a capacidade de pagamento de benefícios;
- o foco não é “bater o CDI do mês”, e sim perseguir, com disciplina, a meta atuarial ao longo dos anos.
Em resumo, a mensagem geral é de que não se trata de correr a 200 km/h nem de cruzar a linha de chegada em primeiro lugar a qualquer custo. Trata-se de chegar bem, com renda, segurança e previsibilidade, no trecho da vida em que o tempo já não permite começar tudo de novo.

